Pode ou não pode? O que a Igreja Católica diz sobre sexo oral, anal, pornografia e outras práticas
Papa divulga nova orientação sobre sexo no casamento O Vaticano publicou um novo documento no qual reafirma que relações sexuais podem existir por prazer, e...
Papa divulga nova orientação sobre sexo no casamento O Vaticano publicou um novo documento no qual reafirma que relações sexuais podem existir por prazer, e não apenas para gerar filhos. O texto "Una Caro – Elogio della Monogamia" não se trata de uma nova lei da Igreja, e já vinha sendo preparado no pontificado do Papa Francisco como resposta a bispos africanos que enfrentam, em seus territórios, a prática da poligamia como tradição cultural profundamente enraizada (leia mais sobre o contexto do documento ao fim da reportagem). Depois da divulgação do texto, as doutrinas da Igreja Católica sobre sexo e reprodução foram debatidas por especialistas e despertaram o interesse de leitores sobre o que é proibido, o que é permitido e os conselhos de novo documento do Vaticano. 🗨️SUA DÚVIDA 📲: Este texto responde às principais perguntas dos leitores nos comentários da reportagem "A nova orientação do papa sobre sexo no casamento". Você também pode mandar sugestões pelo VC no g1. A seguir, o g1 reúne as principais orientações oficiais sobre sexualidade, contracepção e relacionamentos segundo a Igreja Católica — incluindo trechos do novo texto divulgado no fim de novembro. Leia também: Sexo no casamento: o que é proibido, o que é permitido e os conselhos de novo documento do Vaticano Métodos contraceptivos A Igreja historicamente não apoia o controle de natalidade por meios artificiais. Papas e documentos recentes já condenaram o uso de preservativos e métodos contraceptivos modernos, mantendo a defesa de que o casal deve recorrer aos ritmos naturais de fertilidade. Mesmo com a nova formulação do Vaticano reconhecendo que o sexo pode ocorrer sem intenção de procriar, o texto reforça que os casais devem observar os períodos em que a mulher não está ovulando: “É lícito levar em conta os ritmos naturais [...] somente nos períodos inférteis”, diz o documento. Uma das alternativas divulgadas por organismos católicos é o Método Billings, no qual a mulher identifica o período fértil pela observação do muco cervical — usado tanto para engravidar quanto para evitar a gestação sem recorrer a contraceptivos. Importante frisar, entretanto, que o método pode falhar. O Catecismo da Igreja Católica aponta: "A continência periódica, os métodos de regulação dos nascimentos baseados na auto-observação e no recurso aos períodos infecundos (120), são conformes aos critérios objectivos da moralidade. Estes métodos respeitam o corpo dos esposos, estimulam a ternura entre eles e favorecem a educação duma liberdade autêntica". Relações sexuais fora do casamento A posição da Igreja permanece inequívoca: sexo é reservado ao casamento. Relações antes do matrimônio também não são aprovadas pela doutrina. "A defesa da unidade matrimonial no Concílio baseia-se, portanto, em dois pontos firmes: por um lado, o Concílio reitera que a união matrimonial é abrangente, «permeia toda a vida dos cônjuges»[80], e, consequentemente, só é possível entre duas pessoas." Poligamia, poliamor e relações abertas O documento divulgado em novembro reforça que o casamento católico é exclusivo e indivisível. A Igreja rejeita relações abertas, poliamorosas ou qualquer estrutura que envolva terceiros. “Somente dois podem se entregar plena e completamente [...] em qualquer outro caso seria doação parcial de si. (...)A pertença mútua dos dois [...] não pode ser compartilhada com outros.” Inseminação artificial Embora incentive a abertura à vida, a Igreja afirma que a procriação deve ocorrer a partir da união sexual do casal. O novo documento de novembro também reforça que a infertilidade não invalida um casamento: “Um casamento em que não há filhos [...] conserva o valor integral da instituição.” No Catecismo da Igreja Católica, a citação à inseminação artificial é direta: "Praticadas no seio do casal, estas técnicas (inseminação e fecundação artificial homóloga) são talvez menos prejudiciais, mas continuam moralmente inaceitáveis". "O Evangelho mostra que a esterilidade física não é um mal absoluto. Os esposos que, depois de esgotados os recursos médicos legítimos, sofrem de infertilidade, associar-se-ão à cruz do Senhor, fonte de toda a fecundidade espiritual. Podem mostrar a sua generosidade adoptando crianças abandonadas ou realizando serviços significativos em favor do próximo", afirma o item 2379 do Catecismo da Igreja Católica. Sexo anal e oral O novo documento não aborda práticas específicas, mas cartilhas e orientações internas dirigidas a iniciantes na fé classificam sexo anal e oral como atos “não naturais”, por não estarem ligados à fecundação. O caso do sexo oral, quando é o ato principal ou culminante, é visto por teólogos católicos como imoral por anular a dimensão procriativa, devendo ser apenas preliminar subordinado ao coito vaginal. De modo geral, a orientação mais comum é que o sexo deve seguir o “meio natural” — isto é, a penetração vaginal, considerada pela Igreja o ato pleno do matrimônio. Citando especificamente a homossexualidade, o Catecismo da Igreja Católica aponta: "(...) Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves a Tradição sempre declarou que os actos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados . São contrários à lei natural, fecham o acto sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afectiva sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados". Masturbação A doutrina católica não permite a masturbação, por entendê-la como um ato individual que rompe a lógica de doação mútua que deve existir entre os cônjuges. A prática é vista como desconectada do propósito conjugal do sexo. "Seja qual for o motivo, o uso deliberado da faculdade sexual fora das normais relações conjugais contradiz a finalidade da mesma", afirma o item 2352 do Catecismo da Igreja Católica. Pornografia O consumo de pornografia também é proibido pela Igreja. Além de frequentemente estar associado à masturbação — que já não é permitida —, a pornografia é entendida como uma distorção da sexualidade e da dignidade humana. " Ofende a castidade, porque desnatura o acto conjugal, doação íntima dos esposos um ao outro. É um grave atentado contra a dignidade das pessoas intervenientes (actores, comerciantes, público), uma vez que cada um se torna para o outro objecto dum prazer vulgar e dum lucro ilícito. E faz mergulhar uns e outros na ilusão dum mundo fictício. É pecado grave", afirma o item 2354 do Catecismo da Igreja Católica. Contexto de "Una Caro – Elogio della Monogamia" Segundo o analista do Vaticano Filipe Domingues, doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Gregoriana e diretor do Lay Centre, o documento publicado no fim de fevereiro não se trata diretamente de uma nova lei da Igreja: “É uma explicação, uma interpretação. Isso pode ser revisto ou atualizado por futuros pontificados, mas tem peso porque vem da Santa Sé, em nome do Papa”. Domingues lembra que o texto não surgiu do zero: já vinha sendo preparado no pontificado de Francisco como resposta a bispos africanos que enfrentam, em seus territórios, a prática da poligamia como tradição cultural profundamente enraizada. “Há contextos em que cristãos vivem em sociedades onde a poligamia é comum por razões culturais e étnicas”, diz. Nessas regiões, a convivência com comunidades muçulmanas — onde a poligamia também é praticada — torna a discussão ainda mais sensível. Diante desse cenário, os bispos africanos solicitaram um documento que os ajudasse a defender de forma clara a monogamia cristã e a orientar fiéis que vivem em realidades onde o modelo familiar predominante é diverso daquele proposto pela Igreja. Foi nesse contexto que Una Caro ganhou forma e chegou ao formato atual. “A nota foi pensada como apoio pastoral concreto. Ela reafirma a visão da Igreja sobre a união exclusiva entre um homem e uma mulher e oferece elementos para orientar comunidades que convivem com práticas culturais distintas”, afirma Domingues. Assim, mais que uma formulação teórica, o documento nasce como resposta a desafios reais enfrentados por igrejas locais — especialmente na África — e se insere em um movimento mais amplo do Vaticano de oferecer instrumentos pastorais para situações consideradas delicadas. Domingues destaca que esse é o objetivo central da nota: “Ela não muda a doutrina, mas a explica de modo mais claro diante de contextos culturais complexos”. A partir do trabalho desenvolvido para responder à realidade africana, o documento acabou incorporando uma referência considerada nova na doutrina recente: o poliamor. Domingues observa que esta é “talvez a única grande novidade da nota”, por ser a primeira vez que um texto vaticano menciona explicitamente a existência de arranjos poliafetivos no Ocidente. Segundo ele, isso mostra que o Vaticano aponta que certos modos de vida hoje chamados de poliamor representam, do ponto de vista teológico, uma forma contemporânea de poligamia, e portanto contrariam a compreensão católica de relacionamento exclusivo e totalizante entre dois indivíduos. A nova orientação do papa sobre sexo no casamento