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Histórico de processos, salário de R$ 125 mil e DJ de eletrônico: quem é Macário Neto, desembargador preso pela PF

A Polícia Federal prendeu um desembargador, no Rio de Janeiro O desembargador federal Macário Ramos Júdice Neto, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região ...

Histórico de processos, salário de R$ 125 mil e DJ de eletrônico: quem é Macário Neto, desembargador preso pela PF
Histórico de processos, salário de R$ 125 mil e DJ de eletrônico: quem é Macário Neto, desembargador preso pela PF (Foto: Reprodução)

A Polícia Federal prendeu um desembargador, no Rio de Janeiro O desembargador federal Macário Ramos Júdice Neto, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), preso nesta terça-feira pela Polícia Federal, já havia sido alvo de processos e punições administrativas ao longo da carreira no Judiciário. Em 2005, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) abriu um processo criminal contra o então juiz por suspeita de venda de sentenças. Macário acabou absolvido. Dez anos depois, em 2015, o TRF-2 decretou a aposentadoria compulsória do magistrado por envolvimento com a chamada máfia dos caça-níqueis do Espírito Santo. Em 2022, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) anulou a punição ao reconhecer a prescrição do processo administrativo disciplinar. No ano seguinte, 18 anos após ter sido afastado das funções, Macário reassumiu como juiz federal em Vitória (ES) e, pelo critério de antiguidade, foi automaticamente promovido a desembargador federal. Ao assumir, afirmou que ""em tempos de hoje é encontrar a honestidade". Prisão e suspeita de vazamento de operação Macário Neto foi preso por volta das 8h da manhã de terça-feira (16), por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. A prisão preventiva faz parte de uma investigação que apura o vazamento de informações sigilosas de uma operação da Polícia Federal. Segundo os investigadores, o desembargador é suspeito de ter avisado o então presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Rodrigo Bacellar, sobre a operação que levou à prisão de Thiêgo Raimundo de Oliveira Santos, o TH Joias, à época deputado estadual pelo MDB. TH Joias é investigado por negociar armas e drones com o tráfico de drogas e de ser um braço da facção Comando Vermelho na Alerj. Relação próxima com Rodrigo Bacellar Mensagens deixam claras a relação muito próxima de Bacellar e Macário Reprodução/TV Globo De acordo com a Polícia Federal, mensagens encontradas em um dos celulares apreendidos de Rodrigo Bacellar indicam um vínculo próximo entre ele e Macário Neto. O aparelho é considerado uma peça-chave da investigação. Em uma das conversas, o desembargador escreveu: “Te amo”. Bacellar respondeu: “Deus te abençoe, irmão. Sou teu fã”. Bacellar se recusou a fornecer a senha do celular no momento da prisão, mas a Polícia Federal conseguiu acessar o conteúdo posteriormente. Indícios de obstrução de investigações Na decisão que determinou a prisão preventiva, o ministro Alexandre de Moraes afirmou haver “relevantes indícios de ações possivelmente coordenadas e estruturadas” para obstruir investigações relacionadas à atuação de grupos criminosos violentos e suas conexões com agentes públicos. Jantar na noite anterior à operação A investigação aponta que, na noite da véspera da operação, Bacellar avisou ao chefe de seu gabinete que estava em uma churrascaria com Macário Neto. No mesmo horário, TH Joias enviou a Bacellar um vídeo mostrando um freezer cheio de carnes, insinuando que os policiais levariam tudo durante a operação. Segundo a PF, no momento em que Bacellar recebeu o vídeo, ele estaria jantando com o desembargador na churrascaria Assador, no Aterro do Flamengo. No dia seguinte, a operação foi deflagrada. TH Joias não foi encontrado no condomínio onde morava e acabou preso na casa de um amigo. Salário e vínculos familiares Dados do Portal da Transparência indicam que Macário Neto recebe mais de R$ 125 mil por mês. A mulher do desembargador, Flávia Ferraço Júdice, era servidora da Diretoria-Geral da Alerj até o fim de novembro, pouco antes da prisão de TH Joias. Ela pediu demissão e não foi alvo da operação. 'Doctor Judice': DJ de música eletrônica 'Doctor Judice': desembargador Macário Neto é DJ de música eletrônica Reprodução Fora do ambiente formal dos tribunais, o desembargador federal também é conhecido por uma faceta pouco comum no Judiciário: a de DJ e entusiasta da música eletrônica. Nas noites do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, ele circulava em ambientes ligados ao gênero e costumava se apresentar como alguém profundamente ligado a esse universo cultural. Macário mantém um perfil público na internet no qual se define como “amante da música eletrônica há mais de 35 anos”. Nesse meio, adotou o nome artístico Doctor Judice, identidade usada para divulgar playlists, registros musicais e referências ao estilo que diz acompanhar desde a juventude. Desdobramentos Além da prisão de Macário Neto, o ministro Alexandre de Moraes determinou a transferência de TH Joias para um presídio federal de segurança máxima. Mensagens analisadas pela Polícia Federal também mostram uma promessa de apoio político. Em uma delas, Bacellar escreveu ao desembargador: “Sempre que precisar, tô aqui pra qualquer parada, em especial na hora ruim”. O que diz a defesa do desembargador Em nota à imprensa, a defesa do desembargador Macário Judice Neto disse que o ministro do STF, Alexandre de Moraes, "foi induzido ao erro" ao determinar a prisão. Os advogados de Macário também alegam que não foi disponibilizada a cópia que decretou a prisão, "obstando" a ampla defesa e irão pedir a soltura imediata do desembargador. Leia na íntegra: "A defesa do Desembargador Macario Judice registra, desde logo, que Sua Excelência o Ministro Alexandre de Moraes foi induzido a erro ao determinar a medida extrema. Ressalta, ainda, que não foi disponibilizada cópia da decisão que decretou sua prisão, obstando o pleno exercício do contraditório e da ampla defesa. A defesa apresentará os devidos esclarecimentos nos autos e requererá a sua imediata soltura". Desembargador Macário Neto, preso pela PF Reprodução/TV Globo