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Documentarista lança livro para superar o luto após o suicídio do filho

Esta é uma coluna sobre uma das perdas mais devastadoras que existem – e sobre como é possível seguir em frente. Para o documentarista Joatan Vilela Berbel...

Documentarista lança livro para superar o luto após o suicídio do filho
Documentarista lança livro para superar o luto após o suicídio do filho (Foto: Reprodução)

Esta é uma coluna sobre uma das perdas mais devastadoras que existem – e sobre como é possível seguir em frente. Para o documentarista Joatan Vilela Berbel, a forma de lidar com o suicídio do filho único, Alvaro Cesario Alvim Berbel, foi organizar um livro com textos de autoria do próprio Alvaro, que encontrou num caderno. Foi assim que nasceu Com uns Contos eu Canto e Conto, que será lançado nesta segunda-feira, dia 3: “Em vez de ficar sofrendo e chorando, resolvi trabalhar e celebrar a vida, o que ele criou. O lançamento, na véspera do seu aniversário de 45 anos, será também um tributo para que Alvaro continue vivo. Não vou deixar que a morte o leve”, afirma Berbel. Joatan Vilela Berbel ao lado do filho, Alvaro, que completaria 45 anos no dia 4 de novembro Acervo pessoal Alvaro havia sido diagnosticado com depressão em 2000 e, desde então, alternava períodos de estabilidade com crises severas. Foram muitos os bons momentos: a graduação e o mestrado em economia, o casamento e o nascimento do filho. O problema é que, nos intervalos nos quais se sentia bem, costumava deixar de lado o tratamento. “Ele suspendia a medicação, cortava o contato com o psiquiatra. Não adiantava eu dizer que a depressão não tem cura, só tem controle, porque Alvaro sempre achava que conseguiria dar conta de tudo. E, a cada crise, a vala era maior, mais profunda e de difícil travessia”, conta o pai. No dia 27 de maio, Berbel foi a primeira pessoa a ver o filho sem vida. Ele lembra que Alvaro tinha tirado férias em novembro de 2024, porque já vinha enfrentando uma nova crise, e acabou entrando de licença médica no BNDES, onde trabalhava: “Na véspera do suicídio, ele retornaria ao trabalho, mas já havia me dito que tinha vergonha de voltar e ser visto com reservas pelas pessoas. A depressão o derrotou, o jogou contra a parede e não lhe deu outra alternativa senão dar um fim a tantos anos de sofrimento, medicamentos e terapias. Posso dizer que foi embora sereno, porque fui o primeiro a ter contato com ele já morto, e seu semblante estava plácido”. O lançamento será na Casa 11 Sebo e Livraria, em Laranjeiras, bairro carioca onde Alvaro vivia. Haverá também a exibição da videobiografia Tributo ao Alvaro, feita pelo documentarista. O livro traz 12 pequenos contos e depoimentos das pessoas próximas. Berbel editou a obra a partir de anotações e de histórias publicadas numa plataforma on-line. Os manuscritos foram escaneados e ficam lado a lado com a transcrição dos conteúdos, revelando a dimensão da angústia que o acompanhava, como no conto Coragem para olhar meu avesso: “Na verdade ainda acho muito difícil viver. Ou talvez a vida seja simples, mas uma camada de coisas que não sei dar o nome foram tornando minha vida mais complicada. Eu aqui escrevo gotas. Dentro de mim há um oceano.” Capa do livro com textos de Alvaro Cesario Alvim Berbel: pai quis fazer um tributo ao filho, que se suicidou em maio Reprodução Sete sinais de alerta para transtornos mentais e prevenção ao suicídio