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Como a renda afeta até a percepção do envelhecimento

Já escrevi, inúmeras vezes, que há muitas velhices – e que uma sociedade desigual como a nossa torna isso evidente. A percepção do que é o envelheciment...

Como a renda afeta até a percepção do envelhecimento
Como a renda afeta até a percepção do envelhecimento (Foto: Reprodução)

Já escrevi, inúmeras vezes, que há muitas velhices – e que uma sociedade desigual como a nossa torna isso evidente. A percepção do que é o envelhecimento também é influenciada por questões socioeconômicas, mostra pesquisa do Pew Reserch Center, instituto norte-americano sem fins lucrativos, especializado em estudos sociais e de opinião pública. Entre os adultos com 65 anos ou mais, 61% na faixa de renda mais alta dizem estar envelhecendo extremamente bem ou muito bem. Na faixa de renda média, esse índice é de 51% e, na mais baixa, 39%. Envelhecimento: a percepção do que é a velhice é influenciada por questões socioeconômicas Ageing without limits Idosos na faixa de renda mais alta tendem ainda a avaliar positivamente sua saúde física e mental, a dedicar tempo a hobbies, socializar com amigos e a participar associações ou clubes de interesse. Outros destaques da pesquisa: 49% dos adultos com 65 anos ou mais dizem que estão envelhecendo extremamente bem ou muito bem. Em comparação, 30% dos que têm menos de 65 anos esperam envelhecer da mesma forma. Entre os mais jovens que pensam sobre a vida após os 70, há mais gente preocupada (67%) do que animada (51%). Mais de quatro em cada dez adultos abaixo dos 65 anos (45%) não têm confiança de que terão renda suficiente para a aposentadoria ou dizem que não conseguirão se aposentar. Três em cada dez acreditavam ter pelo menos um certo controle sobre o processo de envelhecimento como um todo, sendo que os adultos acima dos 65 anos são os mais propensos a ter essa visão (40%). Outro estudo, recém-publicado na revista Neurology, reforça a relação entre desigualdade social e a qualidade de vida na velhice. Segundo o trabalho, pessoas de baixa renda e pertencentes a grupos raciais e étnicos historicamente sub-representados em estudos clínicos têm maior probabilidade de apresentar fatores de risco modificáveis – ou seja, passíveis de intervenção – para demência. Vale como alerta para nós, uma vez que países de média e baixa renda concentram cerca de dois terços dos casos globais de demência. A Doença de Alzheimer responde por 70% dos casos e afeta aproximadamente 55 milhões de indivíduos no mundo – sendo 1,2 milhão no Brasil. A pesquisa incluiu mais de cinco mil participantes, avaliados em relação a 13 fatores de risco para demência: baixa escolaridade, consumo de álcool, obesidade, colesterol LDL alto, lesão cerebral traumática, perda auditiva não tratada, perda de visão, diabetes, pressão alta não tratada, tabagismo, depressão, inatividade física e isolamento social. Eles foram divididos em seis grupos de renda. Para cada grupo de renda, os pesquisadores determinaram a porcentagem de indivíduos com cada fator de risco e a proporção de casos de demência que poderiam, teoricamente, ser prevenidos ou adiados com a eliminação desses fatores. Rendas mais altas foram associadas a uma menor prevalência da maioria dos riscos, com exceção de obesidade, colesterol alto e lesão cerebral traumática. A cada aumento de 100% na renda acima da linha de pobreza, observou-se uma redução de 9% na chance de apresentar um fator de risco adicional na meia-idade. Entre os participantes com renda abaixo da linha de pobreza, destacaram-se a perda de visão e o isolamento social. Os pesquisadores estimaram que 21% dos casos de demência poderiam ser potencialmente mitigados com o tratamento da perda de visão, e 20% com redução do isolamento social. “Pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza e aquelas de grupos historicamente com menos recursos carregam um fardo maior de muitos fatores de risco modificáveis para demência”, afirmou o médico Eric L. Stulberg, autor do estudo e membro da Academia Americana de Neurologia.